Carta aberta ao meu pai

                     
Querido pai,

Sou eu, a menina que você teve nas mãos e deixou cair — não fisicamente, mas emocionalmente, em pedaços que levei anos tentando juntar.

Da minha parte criança, quero te dizer...
Eu só queria te amar.
Só queria ser vista por você, abraçada, protegida.
Mas cada vez que eu tentava me aproximar, era como andar sobre cacos.
Você não me deu colo. Me deu medo.
Não me deu casa. Me deu silêncio e hematomas.
Você me trocou, me ignorou, me feriu, e ainda assim...
Eu tentei, com toda força de uma menina ferida, acreditar que você poderia me amar de volta.

E mesmo quando você levantava a mão, eu ainda queria acreditar que era possível te agradar.
Mas pai... eu não devia ter que implorar por amor.
Não devia ter medo do próprio pai.

Da minha parte adulta, quero te dizer...
Hoje, eu olho pra tudo isso com dor, mas também com consciência.
Você falhou comigo.
E hoje eu me dou o direito de não mais carregar essa culpa que nunca foi minha.

Não fui eu que errei.
Você errou.
Você abusou do poder que tinha.
E usou esse poder para apagar minha voz, meu corpo, minha autoestima.
Mas eu estou aqui agora.
E você já não tem mais poder sobre mim.

Eu sou uma mulher.
Forte, sensível, ferida — mas viva.
E tudo o que eu construí, foi apesar do que me fizeram.
Você podia ter sido meu apoio.
Mas acabou sendo uma cicatriz.

Hoje, estou escolhendo me curar.
E isso significa que eu não vou mais permitir que sua sombra determine a luz da minha vida.
Talvez você nunca entenda o que causou.
Talvez nunca peça desculpas.
Mas essa carta não é para isso.
Essa carta é minha libertação.

Por mim criança, que chorou sozinha.
Por mim adolescente, que foi exposta, traída e humilhada.
Por mim adulta, que cansou de sangrar por dentro.

Pai, essa dor não é mais minha.
Eu devolvo a você o que nunca me pertenceu.
E sigo… com amor por mim, por quem eu estou me tornando,
e até — talvez um dia — com compaixão pelo homem que nunca soube amar.

Adeus à culpa. Adeus ao medo.
Bem-vinda a minha nova vida.

— Sua filha. Mas agora, minha própria dona.

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Essa é uma carta de cura, de libertação e sobrevivência, de anos de silêncio, dores reprimidas e traumas antigos. 


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