Detesto expor coisas muito pessoais da minha vida, porque passei a adolescência toda sendo julgada por quem mais deveria me defender e proteger, mas vamos lá.
Depois que meus pais se separaram, minha mãe se encontrou em dificuldades financeiras, porque o meu pai acabou indo morar com a amante grávida e meio que ligou o foda-se para os 4 filhos. Dito isso, ela viu que era melhor que eu fosse criada por meus avós, com quem sempre tive uma grande ligação afetiva, especialmente minha vó.
Passei 10 anos morando com meus avós. Imagina, eu sendo criada por 3 velhinhos, porque a terceira era a Conceição, uma veinha danada, que morava com meus avós desde os tempos de sua mocidade.
Ou seja, eu era a única jovem. Se bem que no início, minha tia Deta e sua filha Carla moravam com a gente, depois se casou e teve mais uma filha, e foi morar em outros lugares. Quando ela se mudou para a Bolívia eu sofri demais, porque sentia falta de companhia.
Eu era rodeada de primos, porque as tias moravam por perto. Mas o que eu gostava mesmo era de ver tv e escrever no quarto. Cheguei numa época de ficar mais tempo no meu quarto do que ficar no meio dos primos, porque vivia em crise de identidade constante, mas também aconteceram coisas que me fizeram querer o isolamento, sabe. Só não vou falar sobre isso porque teria que ter as pessoas envolvidas aqui nesse post para se defenderem. Não farei o que fazem comigo, dizer que aconteceu tantas coisas e não estou lá para me defender. Triste acreditarem sem me perguntarem se é verdade ou não.
Não via meus pais com tanta frequência. Minha mãe me visitava sempre que podia, meu pai visitava quando queria. E quando via meu pai, não era aquela coisa toda, sabe. Èramos distantes como dois estranhos, e raramente nos abraçávamos, coisas assim. Na minha festa de 15 anos, meu pai ficou bêbado e sofreu um acidente. Ainda assim foi na minha festa horas depois do acidente, me deixando comovida porque ele se esforçou, mas esses momentos infelizmente foram raros.
Embora essa parte da minha vida fosse tenebrosa, eu tinha meus momentos felizes. Eu vivia aprontando, gostava de ficar com meus primos meninos e até queríamos construir uma nave espacial para irmos ao espaço. Essa ideia foi minha. E eu tinha uma mente cheia de imaginação, acredite. Gostava de jogar futebol, bolinha de gude, elástico e andar de bicicleta.
O meu avô era rígido. Muito rígido. Até quando eu subia nos pés de frutas eu já ouvia o cinto chiar de longe, e como não conseguia correr, minha bunda branca sofria. Ah, mas meu orgulho não me permitia chorar! Eu chorava depois, sozinha, porque acreditava que demonstrar minhas fraquezas o permitia que ele me batesse mais. Mesmo assim batia! 😂
Eu era a mais corajosa dos primos. Se visse uma cobra, matava. Se visse uma aranha caranguejeira, matava. Só a lagarta era páreo forte para mim. Se visse uma, minha alma saía arrastando meu corpo junto.😂
O maior prazer que eu tinha era de andar de bicicleta que meu pai me deu quando eu tinha 12 anos para ir à escola, que era longe para caramba. Imagina em dias de chuva, a gente ia a pé e eu ganhava 10 cm de altura de presente com a lama que se acumulava no chinelo. Se ia de bicicleta, eu tinha que carregar ela comigo até em casa. Nos dias de sol, eu sempre caía e chegava na escola com o joelho todo ralado. Estava acostumada já.
Minha melhor amiga era Roberta, minha prima. Era como irmã para mim. Mas, quando ela ficava com minha outras primas, meu ciúme apitava. Eu não gostava muito dividir ela com outra pessoa. Acho que eu acreditava que não podia dividí-la.
Eu era feliz? Era! Era porque me sentia amada pela minha avó. Ela sim, me mimava porque me protegia de tudo, até de mim mesma. Não me deixava chegar perto do fogão com medo de eu me queimar. Não gostava de me ver montada em cavalos, porque temia que eu caísse. Ela me protegia tanto que eu sofri para me virar sozinha depois de adulta, mas era sua forma me amar e cuidar de mim. Dizem que ela só foi assim comigo, porque eu era diferente, mais frágil.
Nem quando fui morar um ano com meu pai fui mimada alguma vez, Roseana, porque apanhava quase todos os dias, porque sua amiguinha Leda inventava coisas para meu pai me bater, ou simplesmente porque tirava uma nota baixa. Uma vez apanhei tanto, e levei vários murros no rosto que fui para a escola com o olho roxo e inchado, no dia do museu. O olho estava tão inchado que mal conseguia enxergar e acabei caindo num poça de estrume de cavalo. Sofri bulliyng por isso e vivia isolada na escola. Alguém me socorreu ou perguntou se eu estava bem da família? Não.
Meiry contou para minha mãe e foi ai que voltei a morar com minha vó, dona Roseana, porque era exatamente isso que sua amiguinha queria. Era esse o objetivo dela.
Mas eu era mimada, Roseane? Teu cu preto!
A ÚNICA pessoa que me mimou até hoje foi minha vó, mais ninguém.
Vou te explicar, já que você parece ser lenta...
Minhas roupas, a maioria, eram de segunda mão. Não tinha meu próprio quarto. Não tinha tudo o que queria, e meu maior desejo era ter um quarto igual de uma das minhas primas. Não tive convivência com meus pais, nem com meus irmãos. Não estudei em escola particular e nem tinha materiais de escola caros para exibir. Passava férias com meus tios, quando eles me convidavam, e eu raramente pedia alguma coisa a alguém. Dinheiro? Uma vez fiquei com dinheiro que meu pai me deu por várias semanas porque na minha cabeça, se eu gastasse não teria nada dele comigo.
Mimada, Roseane? Pqp!
Quem muito me dera eu tivesse sido mimada, porque teria tido todas as oportunidades que meus primos tiveram. Estudar em escola de elite, viajar para fora, roupas da moda de marca, férias na praia todo ano, namorar riquinhos para exibir com orgulho para família e não passar vexame nem ser julgada.
Mimada, Roseane? Jura?
Quando vocês me viram fazendo birra porque queria muito uma coisa? Diga. Quando me viram me pedir algo? Uma vez pedi pagar com um dos filhotes da cachorra, porque me apaixonei por ele, e não queriam deixar. Fiquei tão triste que chovava no quarto, nem comia. Vovó percebeu que eu queria muito aquele cachorrinho que virou um cachorrão que só obedecia a mim. NInguém conswguia chegar perto dele a menos que eu o acalmasse. Sabe o porquê, Roseana, o cachorro sentia o quanto eu o amava. Não o via como guardião da casa, via como um amigo de 4 patas, para você ver o quanto eu me sentia solitária.
Quando eu queria sair para uma festa, não me deixavam. Quando eu precisava fazer trabalho de escola em outra cidade, não me deixavam. Sempre achavam que eu iria aprontar alguma coisa.
E tudo o que eu queria era ser um pouco "normal", um pouco igual a minhas primas.
Sabe quando disseram que eu estava atrás da creche com um rapaz, que a senhora Jaira fofoqueira falou? NÃO ERA EU. Não vou carregar essa culpa mais. Era Daiana! E sabe porque eu estava lá? Para ficar de olho nela, porque ela era muito novinha na época. Mas preferiram acreditar que era eu, porque era mais fácil para a familia acreditar. Se dissessem que era Daiana, quem acreditaria, né? Vê a diferença? Pegou a referência?
Eu sempre fui julgada. Sempre fizeram suposições sobre mim e erram 90%. A impressão que eu tinha era que eu era invisível para todos, por isso passsava um bom tempo no meu quarto com minhas imaginações, pra fugir de tudo aquilo.
Mimada, Roseane? Olha bem para minha cara branca e pálida e repita que eu sempre fui mimada! Nem mesmo aquela vez que tu tava grávida e rodopiou com o carro comigo dentro, eu te julguei. Aliás, se tem uma coisa que eu não faço nessa vida é julgar outra pessoa, porque sempre fizeram isso comigo. E ainda diz que que me ama? Ama como? De longe, de costas, no escuro e em silêncio, né?
Já passei por muito perrengue na minha vida, e raramente pedi ajuda. Sempre fui muito orgulhosa, inclusive esse é meu defeito, e tu ainda me chamou de mimada?
Depois de ter minha privacidade violada, como eu te falei, eu vim para São Paulo, e a primeira coisa que eu fiz foi procurar uma vaga na escola, sozinha. Arrumei meu primeiro emprego na DER, sem ter feito faculdade ou estudado em escola de elite. Pegava um tróleibus e um ônibus, com 1 hora e meia de viagem. Saía do trabalho e ia para o supletivo, sem jantar ou tomar banho. Passsava em casa só para pegar meu material, isso quando dava tempo, porque minha escola era em outra cidade!
Desde que cheguei em São Paulo, Roseane, sempre busquei trabalhar e tive que aprender tudo sozinha. Eu não sabia nem como era ir num banco! Tem ideia do que é isso? Não, não tem. Eu tinha minhas limitações e mesmo assim, dona Roseane, nunca encostei em ninguém para me dar ao luxo de não trabalhar. Nem pegar benefícios do governo eu queria, porque queria ser capaz de fazer tudo!
Sem contar que quando eu estava grávida, dona Roseane, eu consegui lidar com tudo sozinha. A maternidade foi por minha conta! Não tive babá para ficar com minha filha como vocês aí fazem. Abdiquei da minha vida social para ser mãe. Abri mão de tudo pela minha filha. Quem de vocês fez isso? Ops, poucas, né? Ser mãe é muito mais do que parir e encher a boca para dizer que tem filhos.
E imagina, que eu não teria minha filha se tivessem feito laqueadura como queriam, sem meu consentimento. E era crime, ainda é. Então, Roseane, vou pedir que tu limpe sua boca antes de falar de mim, ou que fui ou sou mimada.
E sabe qual é o meu desejo de vida, além de ter minha filha sempre saudável e feliz? É um dia, me sentar em uam varanda numa casinha simples com vista para o mar, e escrever. Eu juro que tenho esse desejo há muito tempo. Isso seria de uma pessoa que já foi mimada na vida, dona Roseane?
Não tive uma farmácia pronta para gerenciar, ou um loja de gás para administrar. Não tive nada de mão beijada para ganhar a vida, "querida". Não viajei para fora com dinheirinho de papa, nenhum luxo que vocês aí estão acostumados.
Olha, não te desejo mal, mas não quero tu na minha vida não, desculpa. O que eu te disse tá lá no chat do instagram e tchau. Não preciso de gente falsa que diz que me ama e pensa cada merda a meu respeito. Tu já sugeriu ao meu pai uma vez que me internasse e jura que não lembra! Mas eu lembro!!!! Em 2008, na casa de vovó, naquela área de fora, perto do almoço.
Eu lembro como se fosse hoje, nunca esqueci. E agora diz: "Me perdoa, não lembro nada disso, mas me desculpe". Suas desculpas não foram sinceras, mas já está perdoada, tá. Só não te quero na minha vida. É isso.
E mimada é o caralho!
Isso serve também para todo mundo que acha que fui mimada um dia na minha vida.
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