Minha mãe.

 

Algumas pessoas me perguntam o porquê eu não falo tanto da minha mãe. Aliás, não falo dos meus pais com tanta frequência. 

Resolvi dedicar esse post à minha mãe, primeiramente, falar um pouco dela. No entanto, preciso começar pelo meu nascimento, porque foi comigo que ela se tornou mãe, né!

Minha mãe se casou muito jovem, aos 16 anos. Engravidou, casou. Naquela época tinha essa idiotice de que quando uma garota engravidava, tinha que casar ou era expulsa de casa. Minha mãe é a única mulher de quatro irmãos filhos dos mesmos pais. Minha avó, sua mãe, se casou com outra pessoa, então meu avô ficou com os filhos. Dito isso, ela teve que amadurecer muito cedo cuidando dos irmãos, já que era a primogênita. 

Conheceu meu pai na escola, sendo dois jovens com os hormônios à flor da pele, que resultou numa sementinha chamada Ellen! Tiveram que se casar! 😂

O meu nascimento não teve lá muitos fogos de artifícios, mas estreou esses jovens como pais de primeira viagem, e minha mãe, aos 17, comigo nos braços como está na foto, precisou seguir um caminho desconhecido da maternidade. Fiquei muito doente quando pequenininha, várias vezes. Pneumonia, desidratação, Mal de semioto... tudo isso a assustou muito, sendo uma jovem mãe inexperiente. Minha avó paterna a ajudou em muitas ocasiões, tendo mais experiência com os 15 filhos que teve. Sim, minha vó era uma verdadeira heroína, tendo 15 filhos! Com apenas uma já bastou para mim!

Quando eu tinha 3 anos, ela engravidou de novo. Minha irmã nasceu e crescemos juntas. Aos 4/5 anos eu ainda não andava, devido aos problemas de saúde. Acredito que o Mal de Semioto foi a causa provável do atraso do meu desenvolvimento motor e psicológico. Eu costumava tentar seguir minha irmã andando, segurando em tudo que imaginarem. 

Então, me levaram a uma benzedeira, que aconselhou uns troços malucos para fazer andar. E funcionou! Não sei se foi coincidência, mas eu acredito muito na fé que minha mãe e minha vó depositaram. 

Do nada, comecei a andar, mas ai minha mãe teve mais um filho. Meu irmão. Com três filhos pequenos, meu pai se viu na necessidade de trabalhar muito para conseguir sustentar, mesmo sendo tão jovem. Aos 24 anos, meus pais já tinham 3 filhos. 

Mais três anos depois, mais um. 😂

Quando minha mãe estava grávida do último, eu perguntei a ela como o bebê foi parar na barriga. Lembro do rosto dela até hoje, não sabia o que responder. 

Nós morávamos em um lugar beeeeem isolado em Teixeira de Freitas, Bahia. Tinha mato para todo lado. Foi nessa época que tive uma dor de ouvido terrível, que resultou na minha surdez parcial.Não tinha médico por perto. Aliás, não tinha absolutamente nada por perto. Só rio, mato e terra. Mas foi um dos melhores anos da minha vida. 

Depois que nos mudamos para a cidade, foi ladeira a baixo. Meu irmão nasceu, e tudo ficou confuso. Minha mãe descobriu as traições do meu pai. E o pior, descobriu da pior maneira possível. Acho que nenhuma mulher na fase da terra merece o que minha mãe passou. Nenhuma. 

Meu pai levou meu irmão caçula, que tinha 9 meses, para ver a amante. E eu me pergunto, o que se passou na cabeça dele levar meu irmão para ver a amante? Nunca vou entender isso.

E isso não é tudo. A amante estava grávida. 

Meu pai saiu de casa depois de uma briga bem feia com ela. Minha mãe, brava do que jeito é (quem eu puxei, será?), jogou a chave do carro num terreno que tinha em frente da nossa casa. 😂 

Eu teria feito pior. 

Depois que meu pai saiu de casa, minha mãe começou a trabalhar com minha tia, porque as condições financeiras não era da melhores. Meu pai parecia que não queria saber de ajudar. Meu tio e meu avô ajudavam às vezes. 

Fui morar com minha vó depois de um ano que eles se separam, ou dois, no máximo. Então passei a ver minha mãe com menos frequência, principalmente depois que ela se mudou para São Paulo. 

Costumo dizer que sou muito diferente dela, mas percebo que somos muito parecidas. Somos teimosas, bringuentas, falamos tudo na lada e na cara quando algo incomoda. Logicamente que certas coisas eu não concordo com ela, como o fato dela votar em Bolsonaro! 😂 Odeio este homem com todas as minhas forças!

E assim, minha mãe parou no tempo, teve que amadurecer muito rápido para ser uma mãe aos 17 anos. Não terminou os estudos, coisa que eu queria muito que ela tivesse feito quando teve oportunidade. Trabalhou duro para colocar o que de comer na mesa. Se envolveu com homens estranhos e duvidosos, embora ela nunca concorde com isso, mas agora está firme com alguém que eu espero que dê certo e que ele tenha paciência! 😂

Devo lembrar que minha mãe adotou um sobrinho, que é meu xodó. Fruto de um relacionamento do meu tio com uma mulher (melhor eu não falar sobre eles, ou vou apanhar dos três envolvidos). Mas assim, esse menino foi a salvação da minha mãe, foi quem deu um impulso na vida dela. Hoje é um homem bonito, responsável, respeitoso e sempre será o meu xodozinho.

Resumindo, depois que meus pais se separaram, não tive tanta convivência com ambos. Passei a morar com minha mãe quando me mudei para São Paulo. Morei um ano com ela, depois morei em Santo André, aí voltei e fiquei, acho, que uns 4 anos com ela, e me mudei de novo. Eu vivia trabalhando, não parava em casa. E devo dizer que não nos dávamos bem, porque nosso relacionamento era caótico, de verdade. Minha mãe tem um gênio indomável, por isso brigávamos muito, era realmente tenebroso. 

E o que eu posso falar dela?

 É uma pessoa generosa. Se precisar da minha mãe para qualquer coisa, ela não vai negar, a menos que perceba que está sendo usada, porque a bichinha é esperta.  É romântica! Pensa numa pessoa que gosta de romantismo... MINHA MÃE. 

Cozinha bem!!!!!!! Eu me lembro até hoje de uma sopa que ela fez quando morava em Linhares, ES, eu fui visitá-la, e comi três pratos. Na época eu era super enjoada para comer. E essa sopa ficou na minha memória até hoje. 

Não engole sapo. Minha mãe não leva desaforo para casa. Nem mesmo do meu avó que era rígido e botava medo em qualquer pessoa, minha mãe tinha medo! O que tiver que falar na cara, ela fala. 

Pessoa que minha mãe odeia, além do meu Lulinha, é a mulher do meu pai. Ela a odeia com todas as forças, mas compartilho com ela o mesmo sentimento!

Ela ama os filhos, à sua maneira, e acho que ainda está aprendendo na maternidade, porque como mãe que sou, sei que estou sempre aprendendo, imagina ela que foi mãe tão cedo, né.

Uma das minhas lembranças mais emotivas que tenho é de uma vez, quando fui levada para morar com meus avós, ela me entregou um dinheiro que tinha, sendo que ela não tinha melhores condições financeiras e eu sabia muito bem disso. Segurei o dinheiro como se fosse algo muito precioso, sabe, e eu fiquei olhando ela enquanto o carro se afastava, até virar a esquina. Eu tinha uns 10 anos na época. 

É uma mulher incrível, que errou muito tentando acertar. Teve que aprender desde muito cedo que a vida de adulto não era como brincar de boneca. É um ser humano em constante aprendizagem, em evolução. Acho que estamos, ainda, no processo de conexão, porque com os anos afastadas uma da outra, nos obrigou a redescobrir como nos conectar novamente. Estamos aprendendo, no nosso devido tempo, cada uma a sua maneira de dizer eu te amo uma para outra, de um jeito tímido e desprentensioso. Mas, acima de tudo, desejamos o melhor da vida para a outra. 

Essa é a minha mãe!


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