O sonho

 Às vezes, eu tenho sonhos com pessoas que nunca mais encontrei. Sonhos com pessoas que já se foram, estão em outro plano. Sonhos com pessoas com quem nunca mais conversei. Sempre acreditei que sonhos levam algum significado, um aviso, uma mensagem de algo muito mais além de nós e do que acreditamos, então, para alguns sonhos eu dou certa importância.
Por exemplo, sempre que sonho com a minha filha, ela está perdida em algum lugar, estou sempre procurando por ela. Meus sonhos com ela sempre são assim. Então, é algo que me preocupa, porque não me lembro de sonhar com ela em situações mais leves e tranquilas. 

Hoje aproveitei para dormir mais um pouco, depois da minha filha ir para a escola. E meu último sonho foi com o meu primeiro amor, o Marcelo. Eu tinha 11 anos quando me apaixonei por ele, e ainda me lembro da primeira vez que o vi. Foi na escola. Eu estava na terceira série, ele na quarta. Depois descobri que ele morava na minha rua. Eu não conhecia todo mundo, porque tinha acabado de ir morar com meus avós depois da separação dos meus pais, então saber que ele morava na minha rua me deixou animada. 

Foi para Marcelo que escrevi as primeiras cartinhas apaixonadas, poemas e textos de reflexão. E esse amor inocente durou 5 anos, e ele foi meu par na dança no meu aniversário de 15 anos. Um sonho realizado. E nossa última interação foi no dia da festa da cidade, que aconteceu no antigo galpão do meu tio. Estávamos na mesma mesa com outras pessoas, e eu tinha já meus 16 anos, e me lembro de algo que ele me disse: "Pena que não deu certo". Na hora, não dei a devida importância a isso, mas ao longo do tempo fiquei me perguntando o que ele queria dizer. 

Foi com Marcelo que paguei os maiores micos da minha vida. Um dia, eu pedalava pela rua, e sempre passava na frente da casa dele na esperança de vê-lo zanzando no quintal (raramente eu tinha sorte de vê-lo), e estava tão atenta procurando por ele, que não percebi que a porta de um caminhão, que estava na minha frente, tinha se abrido, então eu bati a cara na porta e caí lindamente no chão. Marcelo, que por quase um milagre, finalmente apareceu e ficou preocupado com o "pequeno acidente". Lembrar disso ainda me faz rir. 

E como foi o sonho? 
Estava acontecendo algo numa casa, que parecia ser minha. Não lembro se era uma festa, mas tinha pessoas zanzando de um lado para o outro. Eu fui abrir a porta pra ver quem chegou, lá estava ele, vestido elegantemente, com o mesmo sorriso que me lembro em seu rosto. Fiquei tão surpresa que não consegui dizer nada, e ele meio que achou bonitinho. Eu olhei para o lado e estava minha prima, Luciana, sorrindo de orelha a orelha. Eu disse a ela: "Isso é coisa sua, né?". Ela nem respondeu, só sorriu mais ainda, confirmando a minha suspeita. 
Depois, a cena se passa no dia seguinte, porque era de dia, e a cena anterior era à noite. Estávamos assistindo alguma coisa na teve, numa espécie de rodovia ou estrada, algo assim, mas num ponto de ônibus, aparentemente, e tinha tevê. Marcelo estava ao meu lado, com outras pessoas, e Luciana estava longe, falando no telefone com alguém. Então eu tive a ideia de escrever alguma coisa e dar para o Marcelo, e me levantei e me afastei de todos. Procurei por um papel na minha bolsinha, e fiquei em busca de uma caneta, que eu não achava de jeito nenhum. Enquanto isso, Marcelo também se levantou, indo devagar em minha direção, parou e sentou em um banco próximo, que tinha um coberto, se abrigando do sol. E um rapaz, alto e bonito, com roupas duvidosas, passou por mim, dizendo que tinha algo para me entregar, e retirou uma coisa da sua carteira e me entregou, dizendo que alguém o pediu para me dar, apontando para Marcelo, que nos observava de longe. Enquanto isso, Luciana observava tudo, atentamente!
O rapaz foi embora e eu abri, o que era um jornal dobrado e plastificado. Enquanto abria, Marcelo se levantou e foi até a mim, postando-se ao meu lado. No jornal, tinha uma reportagem de uma menina, com uns 10 anos, vestida de Xuxa, falando da Xuxa e de como ela venceu tanta coisa e tal. Eu comecei a chorar, porque a menina se parecia comigo naquela idade. Eu disse: "Não acredito que você fez isso pra mim!". Marcelo percebeu que fiquei emocionada e que eu estava chorando, disse: "Minha chorona!". Logo pensei: "Sua chorona?". Ele encostou a minha cabeça em seu ombro e leu a reportagem comigo, todo feliz que tinha feito algo legal para mim. De longe, Luciana ainda nos observava e sorria, mais do que nunca, porque o plano dela estava dando certo. O sonho acabou aí. 

Eu sonhei com Marcelo algumas outras vezes, e todos os sonhos são sempre delicados e bonitinhos, mas este me chamou a atenção pelo fato de ele ter feito por mim. Foi, de alguma forma, diferente dos outros sonhos. 

Hoje, Marcelo é casado e tem filhos. Eu soube que ele é feliz e continua sendo uma pessoa de bom coração e trabalhadora. Eu lembro de como ele era altruísta e respeitava as pessoas. Eu tinha muito orgulho por gostar dele, sabe. Para mim, ele sempre será o garoto perfeito por quem me apaixonei aos meus 11 anos, paguei tantos micos só para vê-lo e mandei várias cartinhas apaixonadas, passe o tempo que passar. E vou sempre torcer pela felicidade dele, porque ele, dentre tantas pessoas que se passaram pela minha vida, é uma das que mais merece isso. 

Que os sonhos sejam sempre um acalento no coração em meio as nossas aflições. 


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